Agora o que desconfio que seja verdade, é que a justiça pública arma ratoeiras que só apanham camundongos, e deixa e tolera que famosas ratazanas vagem impunes, floresçam e brilhem, fazendo farofa pelas ruas da cidade.


Joaquim Manoel de Macedo (A Luneta Mágica)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Se Eu Vivesse Eternamente


Viver para sempre é o sonho de muitas pessoas, encontrar a tão sonhada “Fonte da Vida Eterna”, cujas águas não só garantiriam a perpetuidade do seu corpo e de sua vida, mas também de sua juventude. Mas será que viver para sempre seria de fato um bem? É certo que ninguém gostaria de experimentar a angústia de ter que morrer, mas ficar preso a uma existência sofrida, vendo as pessoas que você mais ama morrerem e viver em uma constante tentativa de mudar o mundo em sua volta, sabendo que ninguém está realmente interessado em transformar o mundo em que vivemos num lugar melhor, talvez trouxesse uma angústia maior. Por outro lado, você teria a oportunidade de ver todas as suas gerações, os avanços da medicina, da tecnologia, e então estaria em melhores condições para dar conselhos à humanidade, para o bem ou para o mal (dependendo de sua particular formação!), envelheceria sendo aclamada quem sabe até como um deus! É uma escolha difícil se ao menos a tivéssemos. Analisemos então um caso negativo de imortalidade: um delinquente, cuja conduta rebelde é reconhecidamente impossível de recuperação, um aidético, assassino, que adquire experiências durante a vida toda em que viveu, ele seria com certeza um grande problema à humanidade e a sua própria vida seria um insuperável e eterno tormento. Consideremos um homem que se rende às inclinações depravadas da sua natureza e vem a ser um homossexual que, mais tarde, tendo deificado sua ruinosa opção e se tornado um servo dela, é acometido de AIDS. Ora, sendo a AIDS uma doença terrível e incurável, tal homem teria que viver para sempre sob o jugo estacionado de indizíveis tormentos. Parece que a imortalidade não seria algo benéfico numa sociedade onde a deliberada rebelião contra os valores morais já é algo reconhecido e estabelecido.
Imaginemos um “Hitler” imortal, cujo destino foi julgado e determinado por pessoas que são contra a punição dos malfeitores (estamos no país de Gilmar Mendes!) e priorizam sua reintegração à sociedade e a afirmação eloquente dos direitos “humanos” daqueles que sabemos que só restaria (numa sociedade justa e normal) a punição de prisão perpétua ou a pena capital como ressarcimento pelas vidas que foram tiradas. Imaginemos, desprovidos de qualquer preconceito, uma sociedade constituída de imortais que lutam pela descriminalização das drogas, constituída de viciados em “crack” e de políticos de esquerda que se sacrificam para institucionalizar a prostituição e seu parceiro incondicional, a legalização do aborto, bem como do casamento gay, mas não se sensibilizam com os problemas da saúde, com o desmoronamento da família e da apoteose da promiscuidade com todas as suas maléficas implicações. Imaginemos um mundo feito só de imortais, que secundarizam a preocupação com a depredação da natureza e fazem “vista grossa” ou mesmo promovem a não menos grave depredação dos valores.
Prefiro um mundo onde a morte é algo universal, imprevisível e inevitável. Apesar de estarmos morando numa virtual “torre de Babel”, o mundo ainda não é o inferno. O mal ainda não conseguiu realizar sua tão esperada vitória, a eliminação do bem e a entronização do relativismo e da arreligião. No fim, é o Bem que triunfará. No fim haverá somente aqueles que dizem ao Regente moral do universo: “Seja feita a tua vontade”, e aqueles a quem o Regente moral dirá com solenidade: “Seja feita a vossa vontade”. Então, aqueles cujo amor próprio degenerou-se em egoísmo ao ponto da autodivinização, que rejeitaram a verdade absoluta em favor da “absolutização” do relativismo ou de uma outra verdade qualquer, viverão para sempre num mundo que eles sempre desejaram e terão experiência da felicidade que eles próprios idealizaram, sem Deus, senão eles mesmos, sem paz, pois num mundo onde reina absoluto o relativismo não pode haver paz e sem salvação, pois o seu estado ou condição será imortalizado ou perpetuado. Prefiro desconfiar do meu próprio conceito de felicidade ao invés de elevá-lo à dignidade de norma de fé e prática. Que estado de coisas você escolheria?

Nenhum comentário:

Postar um comentário